Início de ano, para mim, sempre ver com um misto de sentimentos. Muitas possibilidades, muitos caminhos possíveis, as energias se renovando, mas ao mesmo tempo trás consigo um ar de “nada muda”, as peças continuam no mesmo lugar, continuamos viajando pelo espaço sobre uma rocha imensa e que ignora a nossa existência. Digo isso não em tom depressivo e triste, mas com notas de contemplação e até admiração pela resiliência dos humanos em arrumar maneiras mesmo que psicológicas de se curar, de se manter existindo.
E nesse processo de tudo e nada muda, no Brasil hoje, algo mudou. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, isso mesmo, um ‘da Silva’ subiu pela terceira vez a rampa do planalto em quase 40 anos de redemocratização do Brasil. Simbólico? Talvez. Mas o que não faltou foi simbolismo nessa virada de ano.
Exatos 20 anos após sua primeira posse, Lula subiu a rampa do planalto, quase que literalmente, nos braços do povo. Negros, brancos, terceira idade, crianças, pessoa com deficiência, indígena, trabalhador, gordo, professor, cozinheira, artesão, influencer... A lista não para, até o empresariado arrumou um jeitinho de está junto na figura do Geraldo Alckimin. Teve até vira-lata, só faltou ser caramelo.
Mas sabe? Pela primeira vez eu me vi lá, principalmente na figura da Aline, catadora de lixo, com roupas simples e cabelos como o meu e do Francisco menino de 10 anos de idade, com cabelo curto como os que usei a maior parte da vida. Ambos negros. Ainda espero o dia, em que subirei a rampa junto as Aline’s, Francisco’s, Weslley’s, Jucimara’s... junto a uma mulher negra como presidenta do Brasil.
Com tudo isso me emocionei e chorei, chorei e depois amaldiçoei. Amaldiçoei a todos os que acham que representatividade não importa. Amaldiçoei todos os que acham que seu dinheiro é mais importante que a existência dos meus. Amaldiçoei os grandes milionários que fizeram sua fortuna sobe o sangue dos mais pobres. Amaldiçoei a mim mesmo por iniciar um ano amaldiçoando.
A raiva que me consumiu foi tamanha, pelos últimos e por tudo que 2022 foi. Mas mais uma vez guardei ela no cantinho, junto ao choro compulsivo. Tomei um banho e fui postar amor nas redes sociais. Porque como preto, não posso demonstrar raiva pela dor que sinto, pois serei taxado e consequentemente excluído dos poucos espaços e grupos sociais pelos quais sou “tolerado”.
E assim começa meu 2023, com choro, entre a raiva, o amor, alegria e até a frustração por mais uma virada sem acertar na Mega Sena. Mas no final das contas o que importa é que subi a rampa do Planalto.
Ainda...
O destaque da internet ficou para a montagem de Lula desfilando na frente das forças armadas ao som de Crazy in Love da Beyoncé tocada por uma fanfarra.
Caleidoscópio
Iniciei o ano assistindo a nova atração da Netflix, superprodução com Giancarlo Esposito (o Gus de Braking Bad), Caleidoscópio. A ideia da série é ser disruptiva na maneira de consumir, os produtores propõem que cada pessoa escolha a sua ordem de assistir os oito episódios classificados como cores e não os tradicionais números.
Assisti um episódio, o Branco. E a primeira impressão é de um filme curto de assalto, com mil traições e reviravoltas. O elenco tem muitos altos e baixos, e tem expressões faciais e interações silenciosas entre os personagens que me fazem acreditar que só saberei a real intenção delas assistindo outros pedaços dessa história. Com interações dramáticas que não me pegaram, provavelmente porque ainda não tenho a intimidade necessária com os personagens. No mais, até agora é uma série ok, com, o Giancarlo entregando muito.
Apesar de que essa forma de assistir embaralhada não é novidade para mim, nos anos 90 já assistíamos séries na globo assim, episódios em ordem aleatória. Tá atrasada dona Netflix.
Aguardaremos o próximo episódio, vou para o Amarelo. E você assistiu? Me conta ai.
Dos agradecimentos
Em especial vai para a
, que lembrou de mim na news dela de final de ano. E me acolheu muito bem dentro da comunidade de escritores, mesmo eu sendo “um projeto de”. Corram lá para assinar e ler os textos dela.Abraços a todos, um feliz 2023. E nos vemos (espero que semanalmente) por aqui.
Feliz Ano Novo!!!
Essa posse foi difícil, né? Linda, mas infelizmente ainda carregada da melancolia que os últimos quatro anos instauraram nas nossas vidas. Feliz, mas com aquela dor de uma felicidade que tem quatro anos de atraso. Enfim, seguimos. Que 2023 seja melhor.
(E nem tinha sabido dessa série, mas Giancarlo Esposito é tudo pra mim, então fiquei interessada!!!)